Ermida do Rei Santo

Descrição histórica/artística

A Ermida do Rei Santo, situada no cume da serra do Monte Novo, Nave Fria, pertencente à freguesia da Esperança, avista a Vila de Arronches. De pequeno porte, serve unicamente para o culto na romaria do mesmo nome, que ali se realiza quinze dias após a Páscoa.

O edifício é de planta quadrangular de nave única com altar-mor saliente e uma sacristia lateral. A cúpula da nave é composta por caixotões emoldurados separados por régua e elementos piramidais em argamassa. Os fundos apresentam um programa decorativo de circunferências vermelhas e pretas. Numa das molduras dos caixotões foi identificada a data de 1577, remetendo assim este revestimento original para o Século XVI. Na sanca da cúpula lê-se uma frase bíblica incompleta:

“ TODOS QVE AMDAIS TRABALLHADOS DE CVLPAS E DE PECADOS PEDIA O SALVADOR DO MVNDO QVE VOS”… “ SENHOR DEOSENAMINA IV”.

Perderam-se duas palavras nesta referência ao Salvador do Mundo.

São atribuídos 5 séculos de história a esta ermida. De um elevado valor decorativo destaca-se a pintura executada a seco, mas com incisões das linhas mestras a fresco, da mesa e altar-mor. Esta pintura insere-se no estilo decorativo do Século XVII.

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

A ermida do Rei Santo revelou um revestimento original camuflado pelas sucessivas caiações efetuadas anualmente nas vésperas da festa celebrada em honra do seu santo padroeiro. Eram visíveis inúmeras fendas, fissuras e lacunas nas paredes e cúpula, algumas delas já intervencionadas anteriormente. Também se observavam manchas de humidade, quer oriundas do telhado quer por ascensão capilar, destacamento dos rebocos e das camadas de cal. As alterações estáticas a que o edifício esteve e a sua própria degradação resultou na sobreposição de campanhas pictóricas e a perda de grandes áreas de superfície decorativa.

A cúpula possui um revestimento decorativo em argamassa de cal bastante curioso; bolas de cor vermelha e outras dee cor preta sob várias camadas de cal e barramento. Apresentava áreas de lacuna ao nível do suporte, principalmente devido às fendas e fissuras estruturais. A argamassa preta apresentava uma maior desagregação.

No friso foram descobertas letras, visíveis sob as diversas caiações, executadas segundo a técnica do esgrafito. Nas paredes observam-se graffiti; desenhos, letras e números rascunhados, possivelmente do século XVI. Nas pendentes (cantos das paredes da nave), existia um barramento marmoreado de uma campanha recente. No altar-mor identificaram-se várias campanhas pictóricas sobrepostas, debaixo de sucessivas camadas de cal. Algumas áreas apresentavam-se concrecionadas, com lacunas de grandes dimensões e elementos metálicos oxidados dispersos pela parede.

TRATAMENTO EFETUADO

A intervenção em 2009 de conservação e restauro visou pôr a descoberto as diferentes campanhas decorativas. Devido ao seu interesse, foi necessário optar pelas campanhas mais antigas em detrimento das mais recentes. Procurou-se seguir uma metodologia com o objetivo de preservar os valores históricos, técnicos e artísticos. Para além da abertura de janelas de sondagens, foi executado o registo fotográfico e gráfico das áreas a intervir.

Durante a limpeza da cúpula foi descoberta a data de 1577, pintada a preto numa das molduras dos caixotões. A mesa de altar era composta por dois níveis de altura, de distintas épocas. Durante a remoção integral do nível mais elevado da mesa de altar encontraram-se vários fragmentos em argamassa de figuras fantasiosas pertencentes às pendentes da cúpula. Foi identificada a posição original de algumas peças, tendo essas sido colocadas com cola e espigões em fibra de vidro. Todas as lacunas, fendas e fissuras existentes foram preenchidas com argamassas de cal aérea e areia lavada.

Foram ainda executadas reconstituição com técnicas de acabamento diferenciados, de forma a evidenciar a intervenção, essencialmente na cúpula, e foi executada a reintegração cromática para tonalizar e integrar as superfícies novas e antigas.